2007-09-05

O Futebol, a "pureza da raça" e o "luso-tropicalismo"


Um dos mitos em que se sustentava o Estado Novo para reivindicar o direito de posse sobre as colónias, assentava na ideia de que Portugal era um país multirracial e pluricontinental.
Com base nessa tese os portugueses foram construindo de si mesmos uma imagem de gente tolerante, perante o que não deixavam de considerar "raças inferiores" e gente pouco civilizada, que seriam os povos colonizados.
De resto, em qualquer inquérito de rua se constatará que os portugueses não se consideram como um povo racista, ao contrário de outros povos europeus.

Também sabemos que em Portugal o futebol atinge dimensões de quase religião nacional, havendo pouca gente que não se ache no direito de opinar sobre tudo o que diz respeito ao chamado "desporto nacional".
Seja no plano interno, seja no que diz respeito à representação nacional em competições internacionais (tanto ao nível das selecções, como nas competições entre entre clubes), a paixão dos portugueses pelo futebol consegue fazer cair todas as barreiras, inclusive o controle social que garante o convívio civilizado entre cidadãos.

Todos os anos um número significativo de cidadãos estrangeiros, incluindo também vários desportistas (futebolistas ou praticantes de outras modalidades) adquirem a cidadania portuguesa ao abrigo da legislação em vigor. Enquanto cidadãos portugueses de pleno direito, estes portugueses nascidos sob outra bandeira, têm os mesmos direitos e deveres constitucionais do que qualquer outro cidadão nacional.

Há uns anos atrás, o responsável pela selecção nacional de futebol decidiu convocar para representar o país o cidadão português Deco. Mais recentemente, o mesmo responsável incluiu na convocatória, para mais dois jogos da selecção, o cidadão português Pepe.
Tanto num caso como noutro, este "povo tolerante e de brandos costumes" decidiu reclamar da legitimidade do seleccionador para convocar Deco e Pepe, porque estes cidadãos nasceram no Brasil, o que os tornaria numa espécie de "portugueses menos puros".
... e os outros é que são xenófobos, racistas e intolerantes...

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