2008-02-12

Ministra copia Pinóquio

Segundo se pode ler numa entrevista dada pela ministra da educação à agência Lusa e transcrita no Sol-online:

A ministra explicou que as escolas nunca puseram em prática um mecanismo que permitia que um só professor leccionasse um conjunto de disciplinas à mesma turma, como Matemática e Ciências ou Língua Portuguesa e Inglês, por exemplo, apesar de o currículo prever essa possibilidade.

«Na prática, o que acontece é que cada um dos espacinhos é preenchido por um professor e é isso que dá lugar à situação de os alunos do segundo ciclo conhecerem, por exemplo, 16 professores», criticou Maria de Lurdes Rodrigues.

Com esta frase assassina MLR fez duas coisas: mentiu com quantos dentes tem na boca e ao mesmo tempo acusou os Conselhos Executivos de não só prejudicarem os alunos, como também de desrespeitar profundamente os docentes que dirigem.
Passo a explicar.

A ministra mentiu, mesmo que tenha sido deliberadamente mal informada por quem tem o dever de a assessorar, porque mesmo que alguma escola neste país distribuísse cada uma das disciplinas e cada uma das áreas curriculares não disciplinares a um professor diferente, não seria possível nunca chegar a 16 professores:
Língua Portuguesa - prof. 1;
Inglês - prof. 2;
História e Geografia de Portugal - prof. 3;
Matemática - prof. 4;
Ciências da Natureza - prof. 5;
Educação Visual e Tecnológica - prof. 6 e prof. 7;
Educação Musical - prof. 8;
Educação Física - prof. 9;
Formação Cívica - prof. 10;
Estudo Acompanhado - prof. 11 e prof. 12;
Área de Projecto - prof. 13 e prof. 14;
EMRC (Moral) - prof. 15.
Infelizmente para a ministra não existe mais nenhuma disciplina no currículo nacional que justifique o número dezasseis.

Bem sei que para se ser ministro(a) da educação não é necessário conhecer a Escola Pública. Basta ter a confiança pessoal e política do 1º ministro. No entanto, penso que seria de bom tom que os responsáveis políticos se informassem sobre o que dizem, sobretudo antes de concederem entrevistas exclusivas a órgãos de comunicação, para não puderem ser acusados de mentir ou de fazer figuras tristes.

Mas para além da impossibilidade já demonstrada, subsiste ainda a ideia velada de que os Conselhos Executivos (até agora tão "acarinhados" pelo ministério), são capazes de fazer o disparate de não gerir convenientemente os seus recursos humanos.
É que uma distribuição de serviço como a que a sra. ministra enuncia implicaria que houvesse professores com mais de uma dezena de turmas no seu horário lectivo. O que além de ser gravíssimo para os alunos, corresponderia a um esforço sobre-humano desses professores.

Sem comentários:

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