2007-10-04

A ingenuidade de Cravinho

O engenheiro João Cravinho é um político com um passado de seriedade e dedicação à causa pública diametralmente oposto à geração de carreiristas e jotinhas que hoje dirige os partidos que nos governam ou têm aspirações a governar-nos (para se governarem a eles próprios).

Pois o engenheiro João Cravinho, após mais uma tentativa de discussão pública e criação de medidas legislativas para um combate sério à corrupção, acabou por se dar por vencido (acredito que não convencido) e há um ano renunciou ao seu mandato de deputado.

Passado este tempo, vem agora o engenheiro João Cravinho dizer-nos, em entrevista à revista Visão, que foi dos maiores choques da sua vida ver que o debate sobre a corrupção causava um profundo mal-estar e era como um corpo estranho no corpo ético do PS. Segundo o que nos conta o engenheiro João Cravinho, não lhe passava pela cabeça a atitude de absoluta incompreensão dos seus camaradas, nomeadamente dos dirigentes do partido e da bancada parlamentar, para a natureza real do fenómeno da corrupção no nosso país.

Não tenho motivos para não acreditar nos sentimentos que nos são descritos na entrevista. Uma pessoa séria, honesta e com um passado de dedicação à causa pública, como é o caso do engenheiro João Cravinho, não terá qualquer motivo para deixar de dizer honestamente o que sente e pensa.
O que a mim me causa alguma estranheza é constatar que afinal também os homens experientes, como muitos e muitos anos de exercício de funções de grande responsabilidade, tanto ao nível empresarial, como parlamentar e governativo, podem ser tão ingénuos que acreditem que quem mais beneficia com o clima de impunidade, no qual floresce a corrupção, esteja disposto a perder os ganhos de que ilegitimamente (mas sem escrutínio público) se vai apropriando e distribuindo entre as suas clientelas.
Afinal, mesmo na curva descendente da vida, ainda há quem acredite no Pai Natal!

1 comentário:

Unknown disse...

na minha opinião, João Cravinho pensou que tinha mais peso político, que ele poderia liderar moralmente uma transformação...
francamente, não sei se as propostas dele apresentavam 'a prática da coisa', mas muitas ideias boas não fazem forçosamente caminho na política dos nossos tempos

Num mundo em que tudo parece decidido,
ainda há espaço
para o exercício de um pensamento cidadão